Danilo R. Vieira | Oceanógrafo

Aqui estão algumas das coisas que eu aprendi, descobri ou fiz (por obrigação ou por diversão). Espero que encontre algo que seja útil para você.

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Relatório de trabalho de campo: Hidrografia e ondas em Ubatuba-SP

Relatório elaborado pelos alunos Danilo Rodrigues Vieira, Francisco M. Silverio, Luis Fabiano Baldasso, Maria Carolina Hernandez Ribeiro, Thabiani Cristine Aradi em 2010 como parte da disciplina IOF 1224 – Ondas e Marés, ministrada no Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo.

1 Introdução

O curso de Bacharelado em Oceanografia do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo tem em sua grade curricular a disciplina obrigatória IOF 1224 - Ondas e Marés, ministrada pelas professoras Dra Sueli Susana de Godoi e Dra Olga Tiemi Sato. Nela, os alunos têm contato com os diferentes tipos de onda que ocorrem nos oceanos, suas características como períodos, comprimentos e relações de dispersão, entre outras. Além de ondas, até o final de semestre serão apresentados também métodos de análise e previsão de marés e suas teorias de estudo.

A disciplina oferece trabalho de campo, realizado entre os dias 10 a 14 de maio de 2010, na Base de Pesquisa “Clarimundo de Jesus”, em Ubatuba. O trabalho de campo consistiu-se em um embarque no B./Pq. Velliger 2, para lançamento de um fundeio com ondógrafo e um ADP, para obter medidas das correntes e ondas da área de estudo.

No período da tarde nos dois dias seguintes outros grupos embarcaram para obtenção de medidas de corrente e observação da superfície do mar e contagem de ondas. Leituras da maré foram feitas todos os dias por um membro de cada equipe. Houve também uma aula do monitor Rafael Gonçalves para cada grupo sobre tratamento de dados e demonstração de sites para análise dos dados.

Na 6ª feira, dia 14, todos as equipes se dirigiram até a praia de Itamambuca para observação de ondas e marulhos e contagem de ondas dentro do período de 11 s, observadas em um local alto, com ajuda de cronômetro e bússola para verificação da direção do trem de ondas. A confecção do relatório para análise e discussão dos dados foi dividida entre os grupos que embarcaram, sendo que cada grupo ficou responsável pela análise dos próprios dados obtidos.

A volta para São Paulo foi realizada na 6ª feira, dia 14 de maio às 15h50.

1.1 Considerações climatológicas

Nas regiões Sul e Sudeste do Brasil, as mudanças observadas nas condições meteorológicas estão geralmente associadas à formação, passagens ou intensificação de frentes frias. Essas frentes são sistemas meteorológicos típicos de latitudes médias, atuando no litoral brasileiro durante o ano todo. Associados aos distúrbios de grande-escala, os sistemas frontais deslocam-se acompanhados de ciclones e anticiclones móveis, alterando os campos de pressão atmosférica, de vento, de outras variáveis atmosféricas, ao longo da sua trajetória (TASCHETTO, 2006; BARBIERI, 2007).

Na plataforma da região em questão esses distúrbios atmosféricos podem provocar sobre-elevações do nível do mar. Como consequência dessas alterações significativas das correntes e das marés, atividades marítimas, de pesca e navegação são afetadas, dificultando operações em embarcações, portos e plataformas. Outro problema gerado por essas elevações extremas do nível do mar é a erosão costeira, que pode levar à destruição da orla (MAZZER; DILLENBURG, 2009).

Variações no nível do mar são resultado de diferentes fontes físicas, distinguidas por seus períodos característicos. Tsunamis, por exemplo, têm períodos que variam de alguns minutos até mais de hora. Apesar de serem relativamente pequenas em oceano aberto, com amplitudes de até 1m, quando chegam em águas rasas podem adquirir vários metros e causar danos enormes à economia e população. Ondas de gravidade de superfície entram numa categoria de período de 1 a 25s, apresentando amplitude que varia de poucos centímetros a 30m. São as variações no nível do mar de mais fácil observação no dia-a-dia. São classificadas como ondas geradas por ventos e swells. Já eventos meteorológicos podem durar de alguns dias a um ano, ter padrões/variabilidade interanuais e até mesmo decadais, com diferentes amplitudes (OPEN UNIVESITY COURSE TEAM, 1999).

Em nossas latitudes subtropicais pode-se distinguir dois tipos principais de centros de ação meteorológicos: os anticiclones provindos do sul do continente (anticiclone polar) que sucedem em geral as frentes frias, e os anticiclones associados ao ar tropical, que permanecem durante o ano todo. Durante os meses de verão, um anticiclone secundário predomina na região, bloqueando os corpos de ar polar, causando as principais perturbações o clima dessa porção de costa. No inverno, há a predominância dos sistemas polares (BARBIERI, 2007).

O deslocamento do anticiclone semi-permanente do Atlântico Sul, que oscila para o norte ou para o sul com o equador térmico, associado ao maior despejo de ar frio de origem polar no inverno são os fatores que irão indicar qual das duas massas de ar irá prevalecer na região, o anticiclone polar ou o tropical. Apesar de existirem variações periódicas regulares que dependem dos movimentos de rotação e translação da Terra, observam-se variações peculiares e pronunciadas de período irregular nos elementos meteorológicos, motivadas principalmente por perturbações transientes sobre a região. As principais perturbações observadas na área de estudo são do tipo frente fria (NIMER, 1979; BIGARELLA; BECKER; SANTOS, 1994).

Durante o fim do verão prevalecem as frentes estacionárias e observa-se maior frequência de frente quentes, oclusões e os maiores índices pluviométricos. As precipitações, mais intensas e contínuas são associadas às frentes estacionárias devido ao predomínio da massa de ar tropical, úmida e instável, que provoca grande evaporação. O processo de oclusão requer a existência de frentes do tipo quente e fria simultaneamente. Com relação aos nos períodos de verão e primavera, o vento leste é o mais freqüente devido ao predomínio das brisas marítimas na circulação geral. No inverno, por outro lado, os ventos prevalecentes, associados às frequentes perturbações do tipo frente fria, sopram do setor oeste (WSW a NW) (NIMER, 1979; BIGARELLA; BECKER; SANTOS, 1994).

A aproximação de uma frente fria, com ventos soprando de NNE, provoca uma queda da pressão atmosférica, acompanhada por aumento da temperatura. Com a entrada da frente fria, com ventos soprando de noroeste, a temperatura cai e a pressão sobe bruscamente, chegando ao máximo na ocasião da passagem do centro do anticiclone de origem polar. Após a passagem da frente ocorre um aumento da nebulosidade e a possibilidade de fraca precipitação, passando o vento a soprar de WSW. Com a advecção do anticiclone pós-frontal, o regime de ventos é de sudeste. O ar em sua trajetória para o norte vai se aquecendo pela base, misturando-se e ganhando, após alguns dias sobre as nossas latitudes, as características do ar tropical e dando ensejo a uma nova invasão de ar frio do Sul (NIMER, 1979; TASCHETTO, 2006).

Uma frente semi-estacionária, por outro lado, provoca uma queda na pressão atmosférica, temperaturas elevadas e relativamente constantes. Essa situação permanece durante a frente até a entrada do ar frio e o deslocamento da frente para o norte (NIMER, 1979).

1.2 Área de estudo

A porção norte do litoral de São Paulo caracteriza-se pela presença da Serra do Mar, que se projeta sobre o ambiente marinho na região, formando uma linha de costa bastante restrita e recortada—comparado ao litoral sul do estado—encerrando várias enseadas que, por sua configuração, apresentam características de semi-confinamento (MAHIQUES, 1995). A drenagem na área de estudo tem um padrão bastante incipiente (MAHIQUES, 1995), e os processos de troca de água e material sedimentar entre a região costeira e a plataforma adjacente são relativamente pequenos. O relevo emerso e a configuração topográfica do fundo evidenciam os afogamentos dos esporões terminais da Serra do Mar, resultantes dos últimos movimentos de caráter eustático sofridos pela costa.

Ubatuba representa um regime oceanográfico de transição entre águas costeiras e de plataforma continental. A distribuição de massa de água na região de Ubatuba apresenta padrões distintos (CASTRO-FILHO, 1987). As massas de água presentes na região apresentam uma dinâmica dependente principalmente do vento (direção, intensidade e tempo de atuação sobre a superfície do oceano), das correntes e do relevo submarino.

Na área interna da região (da costa até a isóbata de 50m) ocorre a penetração de uma massa de água fria pelo fundo, originada da ACAS (Água Central do Atlântico Sul) caracterizada por apresentar temperaturas inferiores a 18°C e salinidade inferior a 36, a qual se inicia na primavera, com intensidade aumentando ao se aproximar do verão. Com a entrada da ACAS a AC é transportada para fora, pela superfície, formando uma termoclina marcante durante o verão, numa profundidade de aproximadamente 10 a 20m, a qual favorece o enriquecimento das águas da zona eufótica com nutrientes. A ACAS retrocede no outono e desaparece totalmente da área interna em direção à quebra da plataforma continental no inverno, aumentando a largura da faixa costeira onde a AC é predominante. Consequentemente, a distribuição vertical da temperatura no inverno torna-se homogênea e toda a área interna fica coberta com águas de temperatura entre 20 e 23 graus, fazendo com que a termoclina desapareça no inverno. No verão, segundo Castro Filho et al. (1987), toda a região é também ocupada, nas camadas superficiais, pela Água Costeira (AC), caracterizada por apresentar temperaturas aproximadas de 24°C e salinidade 34,9 que se mistura com a Água Tropical (AT) derivada da Corrente do Brasil e que, por sua vez, apresenta salinidade acima de 36 e temperatura superior a 20°C. Geralmente, a AT fica próxima da superfície e a ACAS próxima do fundo, principalmente no entorno da quebra de plataforma.

A mistura vertical da ACAS com a AC somente é observada nas proximidades da costa. No inverno, ocorre uma intrusão de AT no domínio exterior, sendo a região costeira ocupada principalmente pela AC, a qual interage com a ACAS na região frontal que delimita a ocorrência das massas de água. Castro-Filho (1987) sugerem, através de um modelo de circulação, que a dinâmica seja controlada pelo vento e pala ação da Corrente do Brasil.

Segundo Silva (1984), o clima da região pode ser considerado como úmido, em função de valores médios mensais de precipitação. Segundo Azevedo (2002), no verão, ocorre o predomínio do ar tropical prevalecendo frentes estacionárias e quentes. O relevo da Serra do Mar constitui um obstáculo para as frentes frias de baixo declive, comuns na primavera e verão, contribuindo para o predomínio das frentes estacionárias. Com o predomínio do ar tropical, úmido e instável, devido à elevada temperatura, ocorrem grandes evaporações, gerando precipitações intensas e contínuas. Nesta época, os ventos predominantes sopram do setor leste devido à constância das brisas marítimas na circulação geral. No inverno, os ventos prevalecentes sopram de oeste (oés-sudoeste a noroeste), associados às frequentes frentes frias que atingem a costa. Durante o inverno, ocorre o predomínio do ar de origem seco e estável, o que resulta em bom tempo, maior insolação e menor pluviosidade em intensidade e frequência.

A região da Enseada do Flamengo, onde está localizada a base norte do IOUSP “Clarimundo de Jesus”, apresenta declive suave, alcançando cerca de 20m de profundidade próximo da Ilha Anchieta (Figura 1.1). A circulação na enseada é devido a uma corrente que penetra na direção norte, bifurcando-se em dois ramos: um na direção NNE de baixa penetração e outro na direção NNW. O estreito do Boqueirão (23°31,5′ S – 45°05′ W), que separa o continente (pela Ponta da Espia) da Ilha Anchieta tem profundidade máxima de 35 metros e inclinações de 10°, e é uma das várias depressões costeiras presentes no litoral sudeste brasileiro. Sua origem, provavelmente durante o Quaternário Superior, está relacionada com o antigo sistema de drenagem desenvolvido durante os períodos de mar baixo, associado à estruturas tectônicas. Já sua evolução pode estar associada à erosão causada pelas correntes de marés durante o evento de Santos (aumento do nível do mar até um máximo de 5 metros há 5.100 anos A.P.) (MAHIQUES, 1999).

[Fig.]
Figura 1.1: À esquerda, mapa do litoral norte de São Paulo, mostrando o local das coletas; à direita, detalhe mostrando a Ilha Anchieta e também o local das coletas.

A circulação no Boqueirão, assim como na Enseada das Palmas (na Ilha Anchieta) é fortemente dependente da ação de ondas e correntes geradas por ventos, determinadas pelas condições atmosféricas da região sudeste do Brasil (TESSLER, 1988). Existe uma permanência de água fria neste local e, com a ocorrência de ventos intensos, principalmente de sudoeste, as perturbações na superfície atingem o fundo, promovendo uma rápida mistura das camadas de água, com a conseqüente queda da temperatura das águas superficiais. De modo geral, a granulometria ao redor da Ilha Anchieta caracteriza-se pelo domínio de areias finas e muito finas, com depósitos de lama pontuais. Já no Estreito, o fundo é mais lamoso, e ocasionalmente encontra-se sedimentos arenosos e biodetríticos. Em geral, a passagem de frentes frias leva à geração de fortes correntes de sudoeste-nordeste que atingem até 80 cm.s-1 de velocidade, na área do Boqueirão. Em situações normais, as correntes que prevalecem são de nordeste-sudoeste (MAHIQUES, 1999).

A Ilha Anchieta, próxima ao continente, localiza-se, segundo Castro-Filho (1987), dentro do domínio interno da plataforma continental, próxima à isóbata de 50 metros, onde a influência continental deve ser bastante reduzida ou nula. Constitui-se de uma porção de rocha contínua, na face sudeste, e de rocha recortada na face norte. Ela apresenta uma área de aproximadamente 10km2, coberta por uma vegetação classificada como área tropical florestada, semelhante à da encosta da Serra do Mar. Em sua face norte, existe um corpo de água com um volume de 2,5×107m3 e que ocupa uma área de 2×106m2, sendo que a profundidade máxima está em torno de 10m. Esta localidade recebe o nome de Enseada das Palmas, com costões rochosos em suas porções ocidental e oriental constituídos por matacões.

Na parte sul da Enseada das Palmas há duas praias (a Grande, com 1000 m e a do Presídio, com 500 m), e na parte leste duas menores (Praia do Engenho e Prainha, com 100m cada) (ABSHER, 1982). O sistema hídrico da Ilha Anchieta é constituído por cerca de uma dezena de rios perenes e uma série de canais temporários. Na Enseada das Palmas deságuam três cursos d′água perenes, os quais se localizam nos extremos oeste da Praia Grande e leste da Praia do Presídio, e entre a Praia do Engenho e a Prainha, e ainda alguns intermitentes que dependem da pluviosidade local (ABSHER, 1982). O sistema obedece ao regime tropical austral, apresentando vazão máxima nos meses de dezembro a março e mínima nos meses de julho a setembro.

Em relação aos dados abióticos, a Enseada das Palmas apresenta dados registrados de temperatura de 29°C, (verão) e variação de 20°C–21° C no inverno e salinidade de 34,5 durante o ano todo, para águas superficiais. Uma pequena variação de até 2°C pode ocorrer entre os períodos da manhã e da tarde, devido à diferença na radiação solar ao longo do dia.

A profundidade da enseada na sua entrada é de 10m, com aclive suave até as praias na parte sul. Segundo FUMEST (1974), os sedimentos de fundo são compostos, na parte mais profunda, por areia lodosa e cascalho de conchas, passando a areia fina ou grossa próximo às praias. No Boqueirão a profundidade atinge 35 m, aproximadamente, formando uma depressão que se prolonga a leste, por mais de 1km (ABSHER, 1982). A partir de sedimentos de fundo da enseada pode-se sugerir uma circulação de oeste para leste no interior da enseada (Braga, 1989), apesar da pequena quantidade de informação sobre esse aspecto. Também, segundo Absher (1982), nessa região as correntes costeiras correm para sudoeste, entre novembro e março, com intensidade de 0,8 a 1,5 nós. No período de abril a julho, para NE com intensidade de 0,4 a 1 nó, e para oés-sudoeste, de agosto a outubro, com intensidade de 0,6 a 0,9 nós. Ondas de sudoeste e sul não apresentam dificuldades de penetração na enseada das Palmas, assim como os ventos de leste, que sopram com uma certa freqüência no local, durante todo o ano. Em menor freqüência ocorrem os ventos de sudeste, e os ventos de sudoeste também conseguem atingir a Enseada das Palmas, devido às baixas altitudes da parte oeste da ilha.

1.2.1 Praia de Itamambuca

A praia de Itamambuca (23° 24′ S – 45° W) no Litoral Norte do estado de São Paulo entre as praias Vermelha e Félix. Sua natureza é bastante preservada, sendo a quarta área do território brasileira com maior índice de preservação da mata Atlântica. A praia é de tombo, areia média e bastante famosa por suas excelentes ondas, além de uma remanescente vegetação de restinga, e a desembocadura do Rio Itamambuca do lado direito da praia, sendo este o maior contribuidor do aporte de água doce. Sua extensão é de 1800 metros e sua orienta ção é NE–SW voltada para SE.

Como toda região sudeste do Brasil, a praia de Itamambuca apresenta regime de maré semidiurna, ocorrendo diariamente dois ciclos de maré. A altura média significativa das ondas varia de um a quatro metros com períodos entre 7 e 12 segundos em maio. As ondas que quebram para esquerda são mais mais favoráveis com o swell mais de leste/nordeste. Neste caso a saída do rio influência direto nas ondas de esquerda.

O rio que desemboca no mar é um ótimo canal de acesso ao outside e fundamental em dias de mar grande. Os ventos favoráveis para a praia sopram dos quadrantes norte/noroeste/oeste porém a intensidade dos ventos é baixa na região o que dificilmente afeta a textura das ondas, a não ser em dias de chegada de frente fria.

2 Material e métodos

2.1 Fundeio

O fundeio foi realizado na terça-feira, dia 11 de maio às 9h00 pelo engenheiro Francisco Luiz Vicentini Neto do Laboratório de Instrumentação Oceanográfica da USP com com a ajuda da tripulação do B./Pq. Velliger II, nas proximidades da Ilha Anchieta e Enseada das Palmas (Figura 1.1).

Os detalhes do fundeio são dados a seguir, enquanto que o posicionamento dos equipamentos está ilustrado na Figura 2.1.

[Fig.]
Figura 2.1: Esquema do fundeio.

Após a instalação do fundeio, foram realizadas medidas de corrente com um correntômetro a cada um metro de profundidade. Outra atividade a bordo foi a contagem de ondas dentro de um período de 11 s (período característico para ondas de gravidade de superfície), a estimativa da amplitude das ondas, por observação simples; os períodos de onda (tempo entre duas cristas sucessivas), e o período de onda entre as duas bóias marcando a posição do fundeio.

2.2 Correntômetro: 3 lances

Esses dados serão utilizados para fazer a caracterização das ondas no local, e verificá-las no espectro de onda. Associar altura de onda, velocidade do vento e estado do mar.

2.3 Estação meteorológica

Os dados de velocidade, intensidade e direção do vento foram obtidos através da estação meteorológica acoplada ao barco Velliger II do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo.

2.4 Observação das ondas

Para a caracterização do clima de ondas do local foram feitas observações das ondas locais associadas às condições meteorológicas.

Durante 11s (período característico de uma onda de gravidade) foi observado o número de cristas de ondas que passava em um determinado ponto fixo, além do período da onda (tempo entre duas cristas consecutivas em um ponto) e o período da onda entre as duas bóias do fundeio. A observação foi feita repetidamente e por diferentes observadores.

A condição do mar era calma com poucas nuvens (1/16), a amplitude das ondas estimada observacionalmente foi de 30 cm.

Foram utilizados cronômetro e bússola para realização desta atividade.

2.5 Análise dos dados hidrográficos

Os dados obtidos na estação meteorológica e das estações feitas com o correntômetro foram filtrados antes das análises. A filtragem, feita através de uma média ponderada com pesos dados por uma gaussiana, foi feita pelo programa filter1d do pacote GMT. Após a filtragem, os dados do correntômetro foram corrigidos do norte magnético para o geográfico no MATLAB®. Então os gráficos foram elaborados com os pacotes pgfplots e TikZ para LATEX. Não foi possível a leitura dos dados do ADP devido a problemas da sua disposição no fundeio.

Para esclarecimentos de dúvidas de tratamentos de dados e convecção do relatório do cruzeiro foi dada uma aula pelo monitor Rafael Gonçalves no Laboratório Integrado de Processos Oceânicos (LIPO) da base de Ubatuba no dia 12 de maio de 2010.

2.6 Análise dos dados do ondógrafo

Os dados obtidos com o ondógrafo fundeado foram pre-processados com o programa Wavelog® fornecido pela Valeport Limited. Em seguida foram plotados com os pacotes pgfplots e TikZ para LATEX.

2.7 Análise dos dados do ADP

Os dados obtidos com o ADP fundeado foram convertidos de binário para ASCII utilizando o software fornecido pelo fabricante e então foram pré-processados no MATLAB® utilizando uma versão adaptada do algoritmo elaborado por André Palóczy Filho. Em seguida foram feitos gráficos e diagramas com os pacotes pgfplots e TikZ para LATEX.

2.8 Atividade em Itamambuca

No dia 14 de maio de 2010, foi feita a caracterização de ondas local na praia de Itamambuca onde deferentes observadores fizeram repetidamente a contagem de cristas de ondas durante períodos de 11s.

A observação foi feita em pontos altos por toda a praia.

3 Resultados e discussão

Os dados de temperatura, salinidade, densidade e distribuição de correntes foram obtidos com o correntômetro e podem ser observados na Figura 3.1.

Nota-se, nesta figura, que a coluna d’água estava mais homogênea na primeira estação da manhã, estação 1 realizada as 9:00, consequência das condições climáticas que antecederam a coleta, impossibilitando a formação de uma picnoclina e homogenizando toda a coluna d’água, neste momento os ventos locais prediminantes eram de sudoeste, mas com forte tendência de mudança de direção, como observamos nos dados apresentados na Figura 3.3, este evento pode ter forçado a homogenização da coluna d’água. Já na estação 2, as 11:00, observamos o desenvolvimento de uma picnoclina a partir dos 3m, consequência do campo de ventos locais mais estaveis de nordeste, as condições de céu, possibilitarm o aquecimento dos primeiros metros da coluna d’água em função da intensidade da radiação solar.

[Fig.]
Figura 3.1: Perfis de temperatura, salinidade e densidade, obtidos nas duas estações.

Na Figura 3.2, nota-se que, na estação 1, as correntes apresentavam intensidades superiores a 0,2m/s ao longo de toda a coluna d’água e com direção oeste-noroeste. Na estação 2, as correntes apresentaram-se com intensidades menores, cerca de 0,1m/s sendo mais intensas no fundo, o que possibilitou a formação da picnoclina. Na estação 2, a direção das correntes variou entre nordeste e noroeste em função da intensificação dos ventos sobre o local de coleta.

[Fig.]
Figura 3.2: Distribuição das correntes nas estações. Instensidades em m/s.

[Fig.]
Figura 3.3: Variação da direção e intensidade do vento, no dia 11 de maio, com destaque para os horários em que foram realizadas as estações.

Como estavamos na região de turbulência e formação de ventos, a observação visual do campo ondas não foi nítida, pois esta turbulência foi responsável pela geração de ondas de superfície de diferentes comprimentos e período. Neste mesmo período de observação e coleta, estavamos observando a maré enchente de quadratura como podemos observar na Figura 3.4, consequentemente não observamos grandes influências nas correntes resultantes em função de maré no período de coleta de dados, sendo que a maior forçante foi o campo de ventos do local de coleta.

[Fig.]
Figura 3.4: Variação da maré durante a semana em que foi realizado o trabalho de campo, com destaque para o horário em que foram realizadas as estações.

As Figuras 3.5 a 3.7, apresentam os dados obtidos com o ondógrafo. Nessas figuras, vemos que não há dados para o período da Estaçao 1. A Figura 3.5 mostra que durante a Estação 2 foram observadas ondas de altura inferior a 10cm e período inferior a 10s.

[Fig.]
Figura 3.5: Variação de diversas variáveis obtidas com o ondógrafo durante as coletas (ηmed: nível médio do mar juntamente com o máximo e mínimo; Hmax: altura máxima; Tp: período de pico; Tmed: período médio e Hs: altura significativa). Os períodos realçados indicam o horário das estações. Estão plotados somente os dados relativos ao dia 11 de maio.

[Fig.]
Figura 3.6: Relação entre frequência, diração da onda e energia total. Estão plotados somente os dados relativos ao dia 11 de maio.

[Fig.]
Figura 3.7: À esquerda: relação entre perído significativo (Ts) e altura significativa (Hs). À direita: relação entre direção corrigida (Dcorr) e energia total (Etotal). Estão plotados somente os dados relativos ao dia 11 de maio.

A Figura 3.8 apresenta os dados obtidos com o ADP fundeado, no eixo vertical encontra-se a profundidade da coluna d’água proxima ao sensor. Deveremos desconsiderar da discussão os dados da superfície d’água (linha 11 e 12m), pois as intensidades de correntes observadas podem ser originadas pela passagem de embarcações próximas ao fundeio. Outro ponto relevante possível de observação é ver que às 3:50 do dia 12 de maio ocorreu algo anormal com o equipamento, gerando dados espúrios, refletidos na alteração abrupta de direção e intensidade da corrente. Por meio de mergulho, verificou-se que o ADP sofreu uma inclinação, prejudicando a coleta de dados. Também verifica-se que não se pode comparar os dados do correntômetro com os do ADP para a estação 1, pois o ADP ainda não estava posicionado corretamente.

[Fig.]
Figura 3.8: Dados obtidos com o ADP. As áreas destacadas em verde correspondem aos horários em que foram realizadas as estações. Dados espúrios correspondem aos dados coletados enquanto o equipamento estava fora da água ou após sua inclinação acidental. Os vetores estão desenhados considerando o norte para cima.

Feitas estas considerações iniciais, a corrente observada de fundo a partir dos 7m de profundidade (linha 5m longe do sensor) são influenciadas predominantemente pela oscilação de maré, pois a variação de direção da corrente acompanha a variação de maré local. Em contra-partida acima desta profundidade, observamos uma homogenidade no sentido das correntes, que possivelmente foram influenciadas pela distribuição de vento local e regional que se manteve relativamente constante durante este período. Dependendo do intensidade dos vento e do tempo de atuação na região este limite de atuação pode aprofundar-se e possibilitar a homogenização da coluna d’água conforme observamos nos dados inciais de temperatura e salinidade.

Tabela 3.1: Quantidade e direção de ondas num ponto durante um intervalo de 11 segundos.
[Tab.]

Tabela 3.2: Observaçoes do período das ondas, baseado no tempo entre cristas.
[Tab.]

Tabela 3.3: Observações de velocidade de onda, baseado no tempo que a onda levou para percorrer a distância entre as boias do fundeio (35m).
[Tab.]

4 Conclusão

Não disponível online.

Referências Bibliográficas

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