Condições oceanográficas em águas costeiras diferem em muitos aspectos das condições no oceano aberto. Em particular, variações espaciais e temporais são maiores. Alguns dos fatores que causam estas diferenças são descargas de rios, correntes de mare e 0 efeito dos limites costeiros na circulação. A pesca, 0 despejo de resíduos e problemas de navegação constituem exemplos da importância dos estudos costeiros. Algumas das características da Oceanografia costeira serão descritas a seguir.
A circulação de Ekman foi inicialmente apresentada para o caso do oceano aberto (ilimitado) e onde se assume uma profundidade infinita; nesse caso, os transportes na camada superior a direita do vento (no Hemisfério Norte) ou a esquerda do vento (no Hemisfério Sul) recebem suprimentos de massa vindos à esquerda do vento (no HN) ou a direita do vento (no HS); e com vento de superfície uniforme, não se desenvolve qualquer divergência nas correntes.
Entretanto, um caso especial ocorre quando o vento sopra na direção do Equador, paralelo a uma costa num limite leste do oceano. Neste caso, o transporte de Ekman da camada superior leva as águas para longe da costa e o único suprimento possível é de águas abaixo da camada de Ekman, ou seja, deve ocorrer uma ressurgência costeira. A largura da zona de ressurgência é, em geral, da ordem de 100 km e a velocidade vertical é algo em torno de 5 a 10 metros/dia. Resulta então uma faixa de águas mais frias próximo à costa (e, em geral, menos salinas).
A ressurgência costeira ocorre, por exemplo, no Pacífico (na costa da California e na costa do Peru) e no Atlântico (sudoeste e noroeste da África). Frequentemente as águas de ressurgência possuem maiores concentrações de nutrientes, o que favorece a produção biológica. Deve-se notar que a água que ressurge não constitui necessariamente água profunda. Observações mostram que se trata de água provinda de profundidades entre 50 e 300 m; por isso, muitas vezes as referencias são de “ressurgência de sub-superfície”.
A circulação de Ekman foi inicialmente estudada a partir do cisalhamento do vento na camada de superfície; entretanto, se pode ter, também, uma camada de Ekman no fundo. Assumindo, por simplicidade, um fundo do mar plano, o cisalhamento (fricção) no fundo do mar tende a retardar as correspondentes correntes marítimas; a redução da intensidade das correntes próximo ao fundo provoca a redução da magnitude da forca de Coriolis; isto faz com que as correntes tendam a rodar para a esquerda (no Hemisfério Norte) ou para a direita (no Hemisfério Sul), de modo a renovar o balanço entre a fricção, o gradiente de pressão e a forca de Coriolis. O resultado é uma espiral de Ekman que gira para a esquerda (no HN) e para a direita (no HS), à medida que a profundidade se aproxima do fundo (se tem uma rotação das correntes no fundo oposta a rotação na camada de superfície).
Na Teoria de Ekman aplicada a superfície, se assume inicialmente um oceano de profundidade infinita (profundidade h muito maior que a profundidade friccional D); entretanto, especialmente em águas rasas, essa hipótese inicial pode não se verificar; é possível, inclusive, ocorrer uma sobreposição das camadas de Ekman da superfície e do fundo, com tendencias de rotação opostas. À medida que a profundidade media de um local diminui, a maior o efeito de cancelamento dos transportes de Ekman da superfície e do fundo. A Tabela 1 mostra valores de h / D e dos correspondentes ângulos da corrente de deriva na superfície e do transporte líquido na coluna d’água.
Tabela 1
Relação profundidade média (h)/profundidade friccional (D) | Ângulo da corrente de superfície com o vento | Ângulo de transporte de volume com o vento |
1 ou mais | 45° | 90° |
0,5 | 45° | 60° |
0,25 | 22° | 25° |
0,1 | 03° | 06° |
A Tabela 1 mostra que, quando h é maior que D, a espiral de Ekman provoca um transporte 90° a direita do vento (no HN) ou à esquerda do vento (no HS); mas, à medida que a profundidade média h diminui, tanto as correntes de superfície como o transporte de volume são cada vez mais na direção do vento.
O termo estuário tem sido tradicionalmente usado para denotar a parte mais baixa de um rio, onde a mare e o fluxo do rio interagem. Para os oceanógrafos, uma definição mais precisa e desejável, de modo a definir o conjunto de fenômenos associados ao encontro de águas oceânicas com águas de características diferentes. Provavelmente, a melhor definição de estuario é devida a Cameron e Pritchard (1963):
“Um estuário e um corpo d’água costeiro semi-fechado, tendo uma conexão livre com o mar aberto, e no qual a água do mar é diluída com água não salina provinda do continente”.
Alguns cientistas definem o estuário simplesmente como a região em que a água oceânica é diluída por descarga de rios vindos do continente; mas esta definição incluiria grandes regiões costeiras, onde os controles na circulação por fronteiras físicas são muito diferentes. Dessa forma, a definição de Cameron e Pritchard é a mais adequada.
A água do rio que entra num estuário parcialmente se mistura com a água salina do mar e eventualmente flui na direção do mar aberto, na camada superior. Um correspondente fluxo de água do mar ocorre abaixo da superfície, para dentro do estuário. Os fluxos de entrada e saída são dinamicamente associados, de modo que enquanto o aumento do fluxo do rio tende a diminuir a salinidade da água do estuário, ele também causa um aumento do fluxo vindo do mar, o que por sua vez eleva a salinidade.
O extremo fechado de um estuário é chamado “cabeceira” e o extremo marítimo é chamado “boca” ou “barra”.
Os estuários podem ser classificados de várias maneiras.
Geomorfologicamente, eles podem ser divididos em:
Os estuários podem ser classificados em função do efeito dominante no controle da circulação ou mistura, podendo ser:
Os estuários são também classificados em função do grau de estratificação (Stommel, 1953), podendo ser (Figura 1):
Figura 1: perfis verticais (esquerda) e longitudinais (direita) típicos de salinidade em estuários
Num estuário, se a evaporação for menor que a precipitação e as descargas fluviais, o estuário é positivo; se a evaporação exceder a precipitação e as descargas fluviais, o estuário e negativo.
Em termos simples, a expressão da continuidade através de uma secção transversal do estuário e aproximada como
\[ F=E+R \]onde F é a taxa de volume de saída, E é a taxa de volume de entrada e R é a taxa de descarga do rio (desprezando evaporação e precipitação). Sendo St a salinidade da água de saída e Se a de entrada, o balanço de sal pode ser expresso como:
\[ S_t F = S_e\,E \]Combinando as duas equações anteriores resulta:
\[ F=\frac{S_e}{S_e - S_t} R \]Dessa equação se observa que. à medida que a salinidade de saída se aproxima da salinidade de entrada, o volume de saída se toma muito menor que a descarga do rio.
Em termos mais precisos se deve considerar a velocidade U ao longo do estuário, secção transversais de área σ1 e σ2 para as fluxos de saída e entrada, a tempo t e um número inteiro n de ciclos de maré com período T de modo que, segundo a Figura 2:
\[ F = \iint_{\sigma_1} \int_0^{nT} U\,\mathrm{d}t\,\mathrm{d}\sigma \] \[ E = \iint_{\sigma_2} \int_0^{nT} U\,\mathrm{d}t\,\mathrm{d}\sigma \]
Figura 2: esquema de uma secção transversal de um estuário, com as regiões de fluxo líquido para fora (1) e para dentro (2)
Sendo S’ a massa de sal por unidade de volume, se tem:
\[ \iint_{\sigma_1} \int_0^{nT} U\,S^{\prime}\,\mathrm{d}t\,\mathrm{d}\sigma + \iint_{\sigma_2} \int_0^{nT} U\,S^{\prime}\,\mathrm{d}t\,\mathrm{d}\sigma = 0 \]A consideração de S’ acima ao invés da salinidade usualmente medida (como fracão de massa) é rigorosamente mais correta.
Normalmente, nos estuários, as correntes observadas e as correntes de maré em particular sofrem a ação da forca de Coriolis.
As correntes de maré apresentam uma certa assimetria na circulação dos estuários e, além disso, proporcionam um aumento da turbulência, o que acarreta uma mistura maior das águas. Em estuários com pequeno efeito de maré, a cunha salina tende a prevalecer, com pequena ou nenhuma variação de salinidade. A mistura de sal normalmente se processa com a penetração de águas do fundo para a camada de superfície, havendo muito poucas trocas no sentido oposto. Em casos extremos, a mistura devido amare pode formar um estuário verticalmente homogêneo.
A mistura vertical aumenta a energia potencial da coluna d’água e pode ser importante na circulação. A Baia de Fundy e um exemplo de estuário verticalmente homogêneo. McLellan (1958) estima que 3,09 × 106 kW são dissipados nesta baia pela fricção de mare e 3 × 104 kW elevam a energia potencial das águas pela mistura vertical.