Ciências básicas utilizam princípios de conservação: energia, momentum, etc…
Oceanografia Física: leis de conservação de massa, volume, sal, calor
A lei de conservação da massa é utilizada em Oceanografia em diversas situações
Por exemplo, para um canal, esta lei exige que a massa de água que passa pela entrada menos a massa que passa pela saída do canal seja igual à variação da massa de água no interior do canal (normalmente indicada pela variação do nível da superfície da água)
E no meio oceânico como um todo, a massa de água advinda de precipitações de chuva e neve mais a recebida por rios e derretimento de gelo é aproximadamente igual à massa de água perdida por evaporação mais a que congela
Princípio da conservação do volume (ou equação da continuidade): consequência do fato da compressibilidade da água ser pequena
Figura 1: Expressão da conservação do volume numa região estuarina. Termos em m3/s, numa situação estacionária, assumindo variações do nível do mar e marés muito pequenas.
R0: descarcaga do rio
Vo, Vi: transporte para fora e para dentro do estuário
E, P: taxas de evaporação e precipitação
\[ V_i + R + P = V_o + E \] \[ V_o - V_i = R+P-E=X \]Princípio da conservação do sal indica que a quantidade total de sais dissolvidos no oceano é constante (∼5 × 1019 kg)
Rios de todo o mundo levam para os mares, por ano, apenas ∼3 × 1012 kg de sólidos dissolvidos.
Portanto, para aplicações práticas, a salinidade total dos oceanos é constante.
Princípio enunciado para o oceano global é válido para pequenos corpos d'água
Princípio é mais rigoroso se aplicado a áreas limitadas sem contribuição de rios
Utilização é muito conveniente para corpos d'água parcialmente fechados, com limitada conexão com o oceano (ex: Mediterrâneo, um fjord, …)ρo, ρi: densidades da água nos fluxos para fora e para dentro do estuário.
So, Si: salinidades da água nos fluxos para fora e para dentro do estuário
\[ V_i\,\rho_i\,S_i = V_o\,\rho_o\,S_o \]Se considerar ρo ∼ ρi, então
\[ V_i\, S_i = V_o\, S_o \]Combinando esta equação com a segunda equação do volume:
\[ V_i = X \frac{S_o}{S_i - S_o} \] \[ V_o = X\, S_i\frac{S_o}{S_i - S_o} \]
Figura 2: Casos do mediterrâneo e do Mar Negro.
Mediterrâneo | Mar Negro | |
Volume total | 3,8 × 106 km3 | 0,6 × 106 km3 |
Prof. entrada | 330 m | 70 m |
Vi | 1,75 × 106 m3/s | 6 × 103 m3/s |
Si | 36,3 | 35 |
Vo | 1,68 × 106 m3/s | 13 × 103 m3/s |
So | 37,8 | 17 |
X = R + P - E | −0,07 × 106 m3 | ∼ 6,5 × 103 m3 |
X = Vo - Vi | −5,5 × 104 km3/ano | 0,02 × 104 km3/ano |
TR | 70 anos | 3000 anos |
TR: Tempo de residência, período necessário para renovar totalmente as águas de uma área limitada (também chamado flushing time).
Contraste de TR no Mediterrâneo e no Mar Negro. Em consequência, a concentração de O2 no Mediterrâneo é 4 ml/l, enquanto que no Mar Negro, abaixo de 200 m, é zero. A concentração de sulfeto de hidrogênio no Mar Negro, abaixo de 200m, é 6 ml/l. Assim, diz-se que o Mediterrâneo é “bem ventilado”. O Mar Negro, abaixo de 95 m, é estagnado.
A temperatura das águas oceânicas varia no espaço e no tempo.
Esta variação depende dos fluxos de calor que entram e saem em cada corpo d'água, e o cálculo desses fluxos se denomina “balanço térmico”. Esses tluxos de radiação normalmente são denotados pela letra Q, com índices identificando cada componente do balanço térmico.
Símbolo Q: fluxo: calor por unidade de tempo por unidade de área
Unidades de Q: cal/unidade de tempo/cm²; como 1 langley (ly) representa 1 cal/cm², então os fluxos de calor são dados em ly/unidade de tempo.
Opção mais usada para as unidades de Q: Joules/segundo/m² (Watts/m² ou W/m²) (1 cal = 4,185 J).
Componentes do balanço térmico (+ ganho pelo oceano, - perda do oceano)
Símbolo | Termo | Natureza | Nível de profundidade | |
QS | radiação solar incidente (de onda curta) | + | radiação | superfície |
QV | Advecção e difusão (correntes e mistura) | ± | molecular | qualquer |
QB | Radiação emitida pelos oceanos (de onda longa) | - | radiação | superfície |
QH | Condução de calor | - | molecular | superfície |
QE | Excesso de evaporação sobre condensação | - | molecular | superfície |
QT | Absorção de calor (variação de temperatura) | ± | molecular | qualquer |
QH, QE podem ser ganhos (+)
Figura 3: Valores típicos dos termos do balanço de calor (são apenas valores médios).
Outras contribuições: calor do interior da Terra, transformação de energia cinética das ondas em calor, calor advindo de reações químicas ou nucleares, … são desprezíveis. Portanto, equação do Balanço de calor
\[ Q_S + Q_V = Q_B + Q_H + Q_E + Q_T \]Para o oceano global, QV = 0.
Para o oceano global, num grande número de anos completos, Qv =QT =O.
Neste caso, QS = QB + QH + QE
Distribuição percentual típica : QB40%, QH 5%, QE 55%.
Lei de Stefan: corpo com temperatura absoluta T emite radiação
\[ Q = \sigma T^4 \] \[ \sigma = 5,7338\,\mathrm{Jm}^2\mathrm{K}^{-4}s^{-1} \]Lei de Wien: corpo com temperatura absoluta T tem máxima emissão no comprimento de onda
\[ \lambda_m=\frac{K}{T} \]onde K = 2897 μm K
T | λm | No espectro eletromagnético | |
Sol | 6000 K | ∼0,5 μm | ondas curtas, parte visível |
Superfície do oceano | 17°C ∼ 290 K | ∼ 10μm | ondas longas, infra-vermelho |
Figura 4: Distribuição percentual da radiação solar incidente na Terra: 48% atinge o mar, dos quais 29% é radiação direta (do sol) 19% é radiação indireta (após espalhamento na atmosfera).
Radiação solar que atinge o topo da atmosfera é a “constante solar”, medida por satélites , 1365 a 1372 W/m² (perpendicularmente aos raios solares). Devido à absorção e espalhamento na atmosfera, somente 50% (ou menos) atinge a superfície da terra (e do mar).
Fatores que afetam QS:
Figura 5
Expressões matemáticas para fluxos:
Para efeito (1), na ausência de nuvens, sendo θn o ângulo de altitude do sol ao meio dia (em graus) e td a duração do dia (em horas) - dados em Almanaques Náuticos,
\[ Q_{SO} = 0.4\,\theta_n\,t_d\quad[W/m^2] \]Para efeito (4), sendo C a cobertura de nuvens em oitavas:
\[ Q_S^{\prime} = Q_{SO}\,\left( 1-0.0012C^3 \right) \]Para levar em conta a reflexão na superfície do mar:
\[ Q_S = Q_S^{\prime} - \left[ 0.15 Q_S^{\prime} - (0.01 Q_S^{\prime} )^2 \right] \]Observações sugerem multiplicar o valor acima por 0,7.
Os proporcional à temperatura absoluta da superfície elevado à quarta potência, mas subtraindo radiação de onda longa emitida pela atmosfera que atinge o mar.
Este último efeito depende do conteúdo de vapor d'água na atmosfera.
Fórmula prática: Sendo ts a temperatura da água (em °C), eA a umidade relativa do ar na superfície (em %), C a cobertura de nuvens (em oitavas)
\[ Q_B = (143-0,9 t_s -0,6 e_A) (1-0,1 C)\quad \text{em W/m}^2 \]Valores típicos de QB (sem nuvens): 120 a 70 W/m²:
Figura 6: Valores de QB para C = 0 (Notar que aumento de ts gera aumento exponencial de eA, e daí diminuição de QB)
Variações espaciais e temporais de QB: variações geográficas, diárias e sazonais são pequenas, em contraste com as grandes variações de QS. Por exempio, uma variação sazonai de 100 e a 200 e conduz a uma relação de Os de 2934 / 2834 (aumento de apenas 15%) (Variações de umidade relativa do ar acima do oceano são pequenas)
Efeito de nuvens em QB: se encontra no fator (1 - 0,1 C) e deve corresponder a nuvens substanciais (stratus ou cumulus) Para cobertura total, C = 8 e o fator é 0,2
Efeitos de gelo e neve em QB: para a superfície de água, 10 a 15% da radiação de ondas curtas (sol + céu) é refletída. Para gelo ou neve na superfície, porcentagem refletida é bem maior (50 a 80%). Mas, tanto para superfície de água ou de gelo, Os é praticamente o mesmo. Então (QS - QB) no gelo é bem menor, o que ajuda a manter um gelo formado.
Evaporação é muito importante, mas difícil de determinar diretamente. Implica em perda de volume d'água e de calor
\[ Q_E - F_E \, L_T \]FE é a taxa de evaporação da água, em kg/s; LT é o calor latente de evaporação, em kJ/kg.
Para a água pura, sendo tS a temperatura da superfície (em °C)
\[ L_T = 2494 - 2,2t_S \]Dificuldades em conhecer FE. Valores típicos: média global: 120 cm/ano, sendo 30 a 40 cm/ano em altas latitudes, 200 cm/ano nos trópicos (máximo associado aos ventos alíseos), 130 cm/ano no Equador (ventos mais fracos e input de radiação menor, devido à cobertura de nuvens)
Fórmula teórica para estimar FE:
\[ F_E = -A_E \frac{de}{dz} \]AE é o coeficiente de difusão do vapor d'água; de/dz é o gradiente da concentração de vapor d'água no ar acima da superfície do mar; AE é devido à difusão molecular e efeitos turbulentos na atmosfera (turbulência é mais importante que efeitos moleculares). Dificuldades em estimar variações turbulentas (e os valores de AE)
Fórmula prática para FE, baseada em es, eA pressão parcial do vapor d'água no mar e no ar (a 10 m), em kilopascals (101,325 kPa = 760 mm Hg). W velocidade do vento a 10 m de altura, em m/s.
\[ F_E = 1,4 (e_s-e_A) W \]em kg/dia/m² da superfície do mar; portanto \[ Q_E = F_E L_T = 1,4 (e_S - e_A) W (2494 - 2,2 t_S) 10^3 / 86400 \quad \text{em W/m}^2 \]
Relação entre as fórmulas teórica e prática de FE: (es - eA) corresponde a - de/dz
1,4 W leva em conta efeitos de turbulência
Em geral, no oceano, eS > eA logo FE é positivo e QE é positivo. No termo QE, a evaporação representa perda de calor pelo oceano. Esporadicamente, es < eA logo FE é negativo e QE é negativo. Nesse caso, no termo QE, a condensação representa ganho de calor pelo oceano.
Em breve.
A relação das fórmulas teóricas de QH e QE indica que \[ R = 0,062 \frac{t_S - t_A}{e_S - e_A} \]
temperaturas em °C e pressões parciais em kPa.
Foi assumido que AE e AH são numericamente iguais, ambos são devidos a movimentos turbulentos do ar acima do mar.
Continua em breve.
Em breve.
Figura 7: Variação dos termos com a latitude, no Hemisfério Norte (considerando valores médios anuais)
QS, QE tem significativa variação com a latitude (principalmente até cerca de 50°N).
QS, QH variam pouco com a latitude.
Do Equador até 30°N: ganho líquido de calor.
De 30°N aos polos: perda líquida de calor.
Valores da Figura são em W/m²; multiplicando pelas áreas das zonas de latitude, o ganho e a perda equivalem (mas não exatamente).
Consequência do ganho em baixas latitudes e da perda em altas latitudes: fluxo de calor na direção dos polos, pelas correntes marítimas e os ventos.
Contribuição das correntes no fluxo de calor: 60% a 20°N (máximo), 25% a 40°N, 9% a 60°N.
Fluxos de calor no Hemisfério Sul são similares, na direção dos palas, para compensar as perdas das altas latitudes no balanço geral. Entretanto, no Atlântico Sul, fluxo de calor oceânico é na direção do Equador
Figura 8: Fluxos médios de calor e de volume nos oceanos
Grande esforço de pesquisas tem sido realizado no estudo dos balanços e dos fluxos de calor nos oceanos, com a colaboração de meteorologistas e oceanógrafos, em diversos programas internacionais. Estudos de interação ar-mar são importantes em estudos / simulações / previsões meteorológicas e climáticas.
Grande parte da energia da atmosfera vem do mar (como calor latente de evaporação + condução + radiação). A atmosfera é caracterizada por variações de menor escala de tempo, se comparada ao oceano, que possui “memória térmica” maior.